[Ligia] Oi boa tarde a todos! É com grande alegria que nós estamos aqui mais uma vez para fazer mais um vídeo do projeto da inclusão de espirita.info. Como vocês já devem ter visto nos vídeos anteriores, nós iniciamos um projeto sobre inclusão que está na nossa página e hoje é o segundo tema que vai ocorrer, sobre o autismo. E aí a gente vai conversar hoje com a Cláudia mas acho que conversar um pouquinho para Cláudia eu vou me apresentar. Eu sou uma mulher branca, uso óculos cabelo curto, bem curtinho, cabelos pretos, tô com uma camisa azul, camiseta azul e atrás de mim tem uma biblioteca. Cláudia, por favor se apresente, seja muito bem-vinda.
[Claudia] Obrigado, eu sou Claudia Moraes, eu sou a mãe do Gabriel, que é autista, sou mãe do Mateus. Eu sou pedagoga e mestranda em educação. Também sou especialista em autismo. Estou na Doutrina há 28 anos. Estou aqui para conversar com vocês sobre autismo. Eu esqueci de me apresentar fisicamente. Eu sou morena, tenho os cabelos pretos, estou com um vestido preto e colar azul.
[Ligia] Muito bom. Karla você vai começar com as perguntas?
[Karla] Boa tarde a todos e a todas, meu nome é Karla com K. Eu sou uma mulher de 53 anos, de cabelos ao ombro, de luzes, cabelos claros. Eu não uso óculos mas estou usando atualmente, por causa de uma vista cansada. Estou uma sala branca atrás de mim tem alguns livros. Agora eu posso pode passar a palavra Mylene? [Ligia] sim, Mylene, por favor pode se apresentar.
[Mylene] Boa tarde a todos e todas! Meu nome é Mylene, eu sou professora, trabalhadora do IDE (Instituto de Difusão Espírita). Também sou uma mulher de meia-idade de cor parda cabelos curtíssimos e estou aqui para compor essa equipe nesta tarde com essa Live. [Ligia] Muito bem, já que todo mundo falou da meia idade, eu também estou na meia-idade um pouquinho para cima. Então vamos lá, Karla, você quer começar a fazer as questões, abrir para nós?
[Karla] Então, a ideia hoje nessa conversa que a gente quer trazer leveza, né? É… nós vamos falar um pouquinho sobre o transtorno do espectro autista. E a ideia que a gente faz umas perguntas para Cláudia de algumas dúvidas, de alguns esclarecimentos que a gente gostaria de ter. E para gente começar a falar no transtorno do espectro autista. Eu sou professora. Atualmente, eu estou com aluno com Transtorno do espectro autista, ele tem oito anos, também sou estudiosa e também sou especialista nesse assunto. Eu gostaria começar, Cláudia, te fazendo duas perguntas. Eu gostaria de saber de você o que você pensa sobre a inclusão? E o que é inclusão para você?
[Claudia] Olha o conceito de inclusão é muito abrangente e infelizmente, a maior das pessoas, entendem esse conceito de maneira errada. Se atribui a inclusão apenas a inclusão escolar, e o que nós expomos é uma inclusão social, que eu estudo. E também, como o processo de inclusão, houve uma ideia extensão dos espaços especializados, que nem sempre contempla algumas pessoas que tenham autismo. Então no autismo, é bom que a gente atenda as especificidades do sujeito. A inclusão é a meta, mas quais espaços que a gente vai chegar até conseguir essa meta. O errado é pensar que colocaremos em todos os indivíduos dentro de um espaço e as coisas vão se resolver, com aquele passe de mágica. O processo de inclusão, ele
demanda equidades. E o que que é equidades? é você atender cada especificidade do sujeito. E o processo de inclusão também demanda construção, então não é um processo fácil. Mas é a meta e é o que nós estamos buscando. A segunda pergunta?
[Karla] Eu acho que você já respondeu isso aí tudo né? O que que é inclusão que e o que você pensa da inclusão né? Eu acho que você respondeu tudo aí. Mylene…
[Mylene] Cláudia, querida, é uma honra estar aqui com você, contar com a sua experiência.
[Claudia] Eu também.
[Mylene] Eu também costumo e gosto muito de estudar as pessoas com autismo mas eu não tenho muita prática, muito contato com as pessoas. E eu percebo que no senso comum, as pessoas às vezes compreendem a pessoa com autismo com se o autismo fosse uma coisa única, como se todo o autista não fizesse contato visual, tivesse barreiras de comunicação, de interação social. E na verdade, a gente tem vários níveis de autismo né? Então, eu queria que você comentasse um pouquinho sobre esses diferentes tipos de autismo; como que o autismo afeta cada pessoa né e como que a gente pode pensar nessas pessoas nos diversos ambientes? E no nosso caso específico, a participação dela no centro espírita.
[Cláudia] Olha isso é verdade. Em relação ao autismo, existem muitos mitos. E têm os mitos que são extremos. Uns que acham que todos os autistas são como o Rain Man, do filme, não sei se já viram Rain Man. É aquele autista, para baixo, que balança o tempo inteiro, mas tem uma genialidade. O outro extremo acha que todos são iguais ao Einstein. Todos têm aquela inteligência acima da média e tem que tem superpoderes, e vão por aí. O autismo, denominado transtorno do expecto autista, ele compõe uma gama de níveis ali dentro. Para facilitar, estamos usando nível um, dois e três. Autismo leve, autismo moderado e autismo severo. Mas dentro desses níveis, nós temos uma infinidade de sujeitos que não se igualam uns aos outros. Dentro da nossa Doutrina, eu ouvi uma fala muito interessante do psiquiatra Caio Abujadi, ele falava que Doutor Bezerra nos fala em autismos e essa fala é dentro do campo físico né? Ela é muito correta porque não tem um sujeito igual ao outro. Mesmo que eles estejam no mesmo grau, as demandas são muito diferentes. E aí você me pergunta como podemos trazer essa demanda tão diferente para casa espírita. Também voltando ao Dr. Bezerra, ele nos fala: evangelizemos! Evangelizemos as crianças, né? E vamos trazê-las para nosso Centro, nossa Casa Espírita, pra que ela possa usufruir desse evangelho. Mas o Doutor Bezerra não nos fala “vamos evangelizar as crianças atípicas”, ele fala de crianças. Então temos que estar preparado para todas as crianças. Mas o autismo é uma síndrome muito complexa. Nós não podemos desejar que essa mudança que precisa acontecer que ela aconteça de uma dia para noite. A gente precisa construir esse processo de inclusão dentro das casas e a primeira coisa que eu acho que a gente precisa fazer é fazer cair esses mitos. Como esses, ou é uma pessoa que tem um intelecto menor ou é um intelecto maior. E quando se fala em autismo, dentro do âmbito escolar, ainda há a uma negativa dos professores para recebê-los. E essa negativa vem do mito que autistas são agressivos. Tem uma pesquisa do MEC sobre isso. Sendo que a agressividade não é característica do autista. Então, se esse mito está na escola que era para ser um ambiente, agora com um processo de inclusão, um pouco mais aberto, imagina nas casas espíritas, nas igrejas, que as pessoas trabalham sim, com técnica mas mais com o amor da Doutrina? Precisa, para atender essa pessoa autista, precisa de capacitação. Ninguém pode querer que um evangelizador, que recebeu uma capacitação para atender aquelas crianças que costumavam chegar no centro e que a gente dizia que são normais entre aspas, né? Agora eles têm uma gama de outras crianças para receber, e precisam, demandam dessa capacitação, né? Então eu acho que a gente tem um trabalho muito grande, mas trabalho que será que ela muito sério. Eu acho que as demandas, elas têm aparecido cada vez mais; eu tenho um filho de 32 anos agora com autismo. Quando ele foi diagnosticado, ele teve diagnosticado tardio, era um a cada 10 mil nascidos. Hoje nós estamos com 1 a cada 54 e já tem pesquisa apontando para um a cada 33/34, se não me engano, recordando é uma pesquisa muito nova. Mas o número oficial é um a cada 54. Então, essas crianças vão aparecer, esses jovens e esses adultos também vão aparecer e a gente tem que estar preparado para isso.
[Karla] Então, Cláudia, eu vou pegar um pouquinho o gancho aí, da sua fala e da Mylene, eu quero dizer que o autista não é agressivo, ele se torna, mas, vão dizer, agressivo porque? Porque ele quer falar, ele quer se comunicar, ele quer se colocar e ele não consegue se comunicar, muito das vezes e nós, ainda não temos o preparo devido para fazer essa comunicação. O autista, ele também tem uma desorganização sensorial, não são todos, mas muitos têm essa desorganização sensorial. Então, por exemplo, um cheiro, o perfume do cabelo que eu mudo; o creme que eu mudo, eu posso desorganizar o meu aluno se ele não estiver bem. Eu gostaria de conversar sobre isso com você, Cláudia, essas especificidades que às vezes o autista trás no bojo do seu transtorno. Como que nós, evangelizadores e trabalhadores da Doutrina Espírita, podemos nos preparar, vão dizer assim, para estar recebendo, tanto crianças quanto adultos, em nossas casas espíritas.
[Cláudia] Olha, eu acho que a primeira coisa e o que é primordial é vontade de receber essas pessoas. Segundo, é amor. Sem amor você não educa ninguém, seja atípico, seja típico, ninguém. Então, a gente tem que gostar do que faz, e a gente tem que gostar da nossa casa e a gente tem que se enxergar no próximo. Se eu não estivesse no lugar dele o que que eu gostaria que fizesse comigo? Então, temos que fazer isso. E o que você disse é correto. Os autistas têm déficite na comunicação, eles têm déficite de interação social e ele tem também, é, problemas, alguns problemas sensoriais que podem dificultar com que ele esteja dentro da casa de uma maneira mais adequada. Mas tudo isso, quanto a gente entende um pouco do transtorno, a gente começa a aprender estratégias para fazer com que ele funcione melhor e que nós também. Porque antes de querer educar a criança, nós temos que nos educar primeiro. A mudança começa na gente. Então, não enxergar, “ah eu faço tudo direito e a criança não me dá resposta”. “Olha, estava tudo dentro da minha programação e a resposta foi completamente diferente”. Então eu também não posso estar engessado naquilo que eu conheço. Tem que estar aberta para mudanças e pensar que eu vou precisar me educar para lidar com essas pessoas. Eu tô falando Educação na… tentando falar sobre o conhecimento. Eu preciso conhecer as características dele para poder lidar. E a gente tem que conhecer cada um. Porque para trabalhar com autismo, você trabalha individualmente. Então, como isso pode ser possível na casa espírita? Primeiro, fazendo acolhimento das famílias. A família também precisa participar desse processo evangelizador junto com a criança. Aquele negócio que a família chega na casa espírita, deixa a criança e vai embora, não pode acontecer. Essa evangelização precisa ser paralela. A gente também dá oportunidade para essas famílias de serem inclusas. Porque, se você for conversar com a maior parte das famílias desse transtorno físico, elas estão ilhadas. Seja na religião, seja no meio social, até no meio do trabalho também, elas estão ilhadas. Há um grande número de mães e pessoas com autismo que têm um nível de ansiedade e estresse muito alto. Então, essas pessoas também precisam ser acolhidas de uma maneira diferente. A gente precisa enxergar o todo, né? Mas quem vai dar maior subsídios para que a gente trabalhe com esse ser humano são os familiares. Então, pegar esse autista, através dessa família e a partir daí montar os meus planos de ensino, montar as minhas adaptações de ambiente para que ao entrar na casa espírita pela porta, entrar com esse olhar diferente, e sentir esse acolhimento certo.
[Ligia] Então, Cláudia, eu achei interessante que você falou aí e me veio justamente essa questão, então quando você… a família já sabe, já diagnosticou que o seu filho ou a sua filha, ela tem problema de autismo, eles têm que chegar lá no evangelizador ou no atendimento fraterno e eles têm que comunicar isso, não é isso?
[Claudia] Mas isso nem sempre acontece.
[Ligia] Pois é! Porque senão coitado evangelizador né? Porque eu tô pensando aqui, muitas vezes o evangelizador, ele é, aquele trabalhador que, ele começou a ele que essa começar a trabalhar eles colocam evangelização, às vezes sem preparo nenhum né? As vezes, sem pedagogia nenhuma, né? Então, como é que fica essa questão?
[Cláudia] Essa questão é uma questão muito séria, porque se você também for conversar com mães que são espíritas e não frequentam mais o centro, e você vai ver o X da questão, muitas vezes está aí: a falta do acolhimento correto. A falta da percepção do problema. E o fato de querer colocar nas caixas: então, “esse é seu horário”; “você tem que estar aqui em tal horário”; “você tem que vir tantos dias” e essa criança não pode gritar; a criança não pode atrapalhar… e aí o que é que o pai e a mãe sentem? Que eles estão sendo empurrados para fora. Eu sou uma das que perseverei, porque eu já passei por todas essas fases. Eu passei pela fase de chegar numa casa espírita e uma evangelizadora me falar: “por favor, você não traz mais seu filho”. Então isso é assim, hoje é inadmissível, há 30 anos atrás, não tinha todo esse processo que nós estamos vivendo agora dentro da inclusão. Então, o que é que a maior parte das mulheres faziam? ah eu não quero mais esta Doutrina, eu não quero mais esta casa. Eu não estou dizendo que isso é exclusivo da nossa Doutrina. Mas também acontece entre a gente. É culpa da evangelizadora? Não! É culpa do sistema que não, não capacitou essas pessoas adequadamente. Não capacitou, porque? Porque não sabia, só que agora já estão sabendo. Então, precisamos agilizar, para que eles sejam melhores recebidos. Agora, Ligia, o que você falou, isso é correto. Os pais teriam que falar, mas muitos ainda estão vivendo um momento do luto que a Karla começou a falar, começou falando. Esse momento de luto, para uns, ele passa muito rápido, para outros demoram mais tempo. A outra coisa para que eles falem, eles precisam confiar. Então, nem sempre eles vão falar logo de começo. Se a gente não souber fazer um bom acolhimento, eles não irão falar. Essa semana eu conversei com um rapaz adulto com autismo, e ele, assim, tem um autismo muito leve e ele é espírita, e ele me falou que até hoje ele não contou na Doutrina que ele é autista. E ele já tem mais de 10 anos de Doutrina. Então a pessoa tem que ter confiança, né? Então conforme ela for percebendo seu trabalho, recebendo o seu acolhimento, ela vai acabar falando. E tem uns casos que não dá para esconder de jeito nenhum né? Então quando o evangelizador começar a perceber, não que ele vai apontar essa família: olha, você tem um filho autista e não está falando nada. Mas, comece a conversar com essa mãe sobre, procurar um médico… é… esse filho está demonstrar algumas características. Você percebeu em casa? Na escola ele também faz assim? Tenta entrar de uma maneira moderada no assunto, para também ir ganhando essa confiança. Fato, é gente, nenhum momento é fácil. Eu, eu fico ainda brincando que eu estou a todos dos dois lados, né? Então, nem é fácil para família, quanto também não é fácil para os educadores.
[Karla] Oh Cláudia, só um comentário aí na pergunta da Lígia com a sua devolutiva aí para nós né? É o autista ele não tem características, né? Igual outras deficiências né? Então esse ano, eu tive um problema na escola porque o meu aluno é aquele aluno ainda desingonçado, que não se controla, sai empurrando todo mundo. Então a escola sabe que ele tem TEA e que a gente tem que ter todo um cuidado com ele né, e com os outros também que estão ao seu redor. Então, uma mãe reclamou, falou chamou que que ele não tinha educação né? E aí eu expliquei para ela que ela tinha, que ele tem um transtorno do espectro autista, a mãe me pediu tantas desculpas… Por que num primeiro momento a gente vem com aquela ideia antiga mesmo, que a criança é birrenta, que a mãe não sabe educar… porque o autista, ele, de uma desorganização, ele pode fazer uma desorganização por muito tempo… então a gente tem que tomar muito cuidado, com as vezes, o que é uma birra, passar para né? uma desorganização e que vai aí que a gente custa para tirar essa desorganização. Então, às vezes num primeiro momento, a gente acha que a criança é mal educada, que a mãe não dá limite. Então a gente tem que passar muito isso para o nosso trabalhador, para que ele possa entender também, né? Formação é tudo também né?
[Cláudia] Desculpe, eu te cortei. Sem que isso se torne uma desculpa para não educar. Não é porque é autista, que não precisa ser educado. E eu não sou aquela professora que acha que: o professor é para instruir e mãe é para educar. Nós estamos nos dois espaços em que essa pessoa passa mais tempo. A casa e a escola. Então, enquanto ela está comigo, eu sou educadora. Enquanto está a mãe, a mãe é educadora. Eu gosto daquela fala que precisa uma aldeia toda para edudar. Eu acho que a gente é educado em todos os espaços. Há algumas famílias que usam essa fala de que “meu filho não é mal educado, ele é autista”. Eu eu acho isso péssimo. Porque todos eles são passíveis de receber educação. Nós é que temos que saber como ensinar. Então jamais se isentar de educar essa pessoa. Mas sim, falar que algumas características. Esse problema que você falou, é muito autista tem que isso. Essa percepção do corpo, e de como esse corpo atua no espaço. Então é, apresentam às vezes uma força extrema, que a gente não sabe de onde vem; são meio desengonçados mesmo; não sabem lidar com o corpo no espaço. Então isso precisa ser falado. Essa inclusão, ela precisa acontecer e ser falado também com todos. Não é porque o outro pai né? como essa aí que reclamou. Não está fazendo parte diretamente do processo desta criança, que ele também não precisa saber disso. Então a escola também precisa ter suas palestras, tocar no autistmo, quanto nas outras deficiências, para que as pessoas tenham pelo menos uma noção.
[Mylene] O Cláudia, eu queria fazer um comentário, você tem que você falou coisas muito pertinentes né? Em primeiro lugar a questão da acolhimento às famílias e agora sobre a questão da educação. E é interessante porque às vezes eu penso que a gente também não pode fazer um tratamento muito diferenciado. Os pais chegam no centro espírita e só os pais da criança com autismo que ficariam nesse ambiente. Com a sua fala, eu começo a pensar no quanto seria pertinente, que a educação Espírita da criança acontecesse junto com os pais. Porque os primeiros evangelizadores deveriam ser os pais. Só que às vezes a gente não sabe fazer isso, a gente não tem tempo. Então, quando o pai e a mãe chega no centro espírita, ele coloca a criança na salinha e ele vai lá relaxar, ouvir a palestra dele. Só que na verdade, seria importantíssimo, que ele junto com esse evangelizador, que seria um mediador, fizesse um trabalho juntos envolvendo as crianças. Deixando as crianças, de certa forma, à vontade né? Mas encorajando que elas participassem. E assim, os pais de crianças também que não não tem nenhum problema de desenvolvimento, conheceriam sobre as crianças com autismo, ou a criança com a paralisia cerebral… Porque um grande problema é que as famílias de crianças com deficiência têm, é a questão da inclusão, da inclusão na comunidade na festinha, nos eventos… Então seria talvez, aí eu te pergunto, né? Uma possibilidade para a gente construir esse ambiente acolhedor, em vez de adaptar conteúdo, a gente trabalhar isso conjuntamente com a família? Seria possível?
[Cláudia] Eu acho que dentro da sala com a criança, não é bom. Teria que ter uma ambiente paralelo. Pode até parecer simplista o que eu vou falar, mas às vezes tinha sábado, quando eu ia levar meus meninos para a evangelização, eu só queria sentar 5 minutos. As vezes não conseguia nem ouvir a palestra! Eu só queria sentar. Eu só queria ficar cinco minutos sem ter que me preocupar o que que aquela criança tava fazendo, por que eu sabia que tinha alguém com ela, né? Então, se você colocar esse pai dentro da sala, também pode ter um peso extra para ele, ao invés de ajudar. Tem que ver cada caso. Porque tem mães de autista, assim, que vão fazer isso e vão ensinar o evangelizador de uma maneira que vai ser belíssima. E tem outras que vão falar assim, “poxa eu vou para lá em vez dela cuidar do meu filho eu que vou ter que cuidar? Então, tem o nosso nível também né? De entendimento, o nível espiritual também. A gente precisa lidar com todos os tipos de pessoa. Então eu acho que seria bacana, sim, é, um trabalho paralelo. Não dentro da sala com uma criança. A não ser que, essa criança tem muita dificuldade de ficar na sala. Então a mãe começa ficar um pouquinho e aos poucos ela vai saindo, aos poucos ela vai sumindo e vai sendo diluída naquele ambiente.
[Karla] e eu acho que nós estamos realmente no início do início, né? Porque o autismo, ele veio de tirar a gente do nosso lugar de conforto, né? A gente fala muito isso nas escolas, que quando chega uma uma criança ou adolescente com Transtorno do espectro autista, o professor no final do ano ele sai diferente, né? E nós vimos isso na pandemia, agora como os professores de que.. que ficam, né? Que dão esse apoio à criança com transtorno do espectro autista, como que eles são mais né? Maleáveis, eles adaptam mais a tudo muito mais rápido, porque autista faz isso com a gente graças a Deus, né? Então, a gente tá encaminhando para o final, eu gostaria Cláudia de te perguntar, se você pudesse é… transformar alguma coisa, mudar alguma coisa, com relação ao seu entorno a própria Doutrina Espírita… O que que você mudaria com relação ao acolhimento à criança e ao jovem, o adulto com Transtorno do espectro autista?
[Cláudia] Olha, eu acho uma boa fala espírita, nos tempos atuais, é essa do D. Bezerra. Existem vários tipos de autismo. E também são várias as causas pelas quais essas pessoas que estão aqui. Há um mito, um estigma, de que espíritas acham que autistas são ex-suicidas. Não que não possam ser, não que não aconteça esse caso. Mas isso é mais um dos casos. Assim como todos nós! Cada um veio aqui para o motivo. Então, nós não podemos colocar: “Olha o deficiente visual tá nessa caixa; o autista tá nessa das reencarnações, o típico está nessa”. Nós temos encarnações variadas. Tanto de expiação, quanto de missão… Então é… que a Doutrina fale mais disso. Por que muita gente evita a Doutrina, por causa disso. Mães de autistas são muito protetoras. Aí quando elas ouvem isso, assim, tem umas que sabem que sou espírita que nem querem falar comigo. “O Espiritismo fala que meu filho é suicida, donde já se viu isso? Um anjo azul desse?” É lógico que o que ela chama de anjo hoje é uma criança com autismo, não é um anjo, né? E sabemos lá o que ele foi, mas também não podemos julgar o que ele foi. Cabe a nós receber a todas as pessoas da melhor maneira. Então, tentar diluir um pouco esse estigma, até para que fique um ambiente mais acessível. Esse negócio que eu estou aqui para pagar… nós que já estamos na Doutrina há mais tempo, a gente tem uma percepção diferente disso. A pessoa que tá conhecendo agora isso cai para ela de uma maneira muito pesada. Então, às vezes, ela evita conhecer algo que vai ser muito bom, por causa desse estigma. Então acho que uma coisa que eu mudaria um pouco, é isso. E eu não sei se vocês têm visto as falas do Divaldo atualmente em relação ao autismo, e como a percepção dele também tem mudado? Eu ouvi uma palestra dele outro dia e eu disse, Nossa! A gente que leu Loucura e Obsessão, né? Do Manoel Philomeno de Miranda, que é um livro assim, belíssimo, mas que tinha é… para aquela época, essa determinação, né? de que o autista que estava sendo denominado ali era uma pessoa que estava numa expiação muito grande. E por um tempo, Divaldo falou muito isso: “autistas são ex-suicidas e tal”. Hoje ele já aborda de uma maneira diferente. Então mostra que a nossa Doutrina também, ela está mudando… né? Ela está aberta para o que é novo e o que é diferente. E nós estamos também num tempo de mudança. Nem que seja assim, só para que repensemos, eu acho que já é um bom caminho.
[Ligia] Karla, quer dar suas considerações finais?
[Karla] Nossa! Depois dessa fala tão rica né gente? Dá vontade de ficar aqui mais umas três horas, né? E ainda não terminou, né Claudia? Tem muita coisa pra falar né? né Lígia, né Mylene? Tem muita coisa ainda, muito angústia ainda… muitas… até questionamentos que a gente gostaria de falar, né? Mas ainda não dá para a gente falar tudo e a gente vê em outros momentos aí conversando mais, né? Eu não sei se a gente poderia deixar aqui uma, uma mensagem né? Depois dessa fala tão rica, mas eu acho que qualquer lugar que eu esteja inserida, eu tenho que ser uma pessoa inclusiva. Eu tenho que pensar na inclusão a todo instante, vencer minhas dificuldades preconceituosas que a gente ainda traz muitas, né? A gente nem sabe o quanto nós somos preconceituosos, porque a gente ainda não conseguiu se mostrar em todas as situações. Eu acho que informação, estudo, é muito importante também. Eu acho que a boa vontade, o amor tem que vir junto, né? Com essa informação… e assim uma frase que eu gosto muito do Yung, que eu sempre falo, né? “Ao tocar uma alma, que seja apenas mais uma alma”. Então assim essa minha palavra final, né? Queria agradecer a Cláudia, Mylene, a Ligia por esse momento é de reconstrução que a gente faz a todo dia, a todo instante, né? Agradecer muito pelos conhecimentos da Doutrina Espírita que tem, que nos auxilia aí né? As vezes a gente fica com uma asa quebrada, mas vai caminhando de novo… Então só agradecer mesmo.
[Ligia] Mylene:
[Mylene] bem é com muita alegria né? Mais uma live, mais um momento um encontro com vocês… é… às vezes para o meu temor né e angústia a inclusão é um processo infindável, mas é justamente por isso que a gente tem que começar e continuar né? E é com as palavras da Cláudia, com a força da Ligia né? Que está empreendendo esse projeto com muito, muita sustentação e as palavras de Karla também. A gente começa, eu começo assim a desenhar que é… que o conceito de inclusão está muito associado a nossa mudança de olhar, né? A gente tem que olhar para cada um como o espírito, alguém que faz parte, que nos complementa… É desenvolver a nossa alteridade e caminhemos, sigamos na nossa utopia, né? Eu gosto, eu gosto muito do Eduardo Galeano né? O texto dele que ele fala que a gente corre, a gente anda dois passos, a utopia corre dois; a gente caminha mais três; ela corre mais três; aí lá pelas tantas né? A pessoa que tá correndo atrás dela pergunta: “mas para que que serve a Utopia?” Aí alguém responde: “serve justamente para isso, para que a gente nunca pare de caminhar”. Então esse é um processo, que pode trazer dificuldades, barreiras… Mas ele tem muitas possibilidades, então siganos, muito obrigada gente!
[Ligia] Agradeço a todos agradeço, especialmente a Cláudia, que a gente possa encontrar outras novas oportunidades, em outras outros vídeos e agradecemos a todos aqueles que estão nos assistindo… que nós possamos também trocar ideias, se vocês quiserem mandar dúvidas, via o próprio chat do YouTube… ou então via contato do espirita.info. Nós podemos também acolher essas perguntas, trabalhar um pouco mais o tema, que com certeza, tem muita coisa para a gente aprender. Muito obrigado a todos! Tchau!